quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

>Amores Excretos V

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Se sinto,
minto.
se disfarço, finto amor eterno.
ergo, falso é aquele a quem me entrego
pois se o faço
é porque nego.

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sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

>Impressão à luz do sol

Ao poeta Geraldo Câmara, da vida em vie

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Breve o dia, os deuses se dispõem

­ ­a quebrar o ritmo

­da nossa vida em via;

­se me ardes, não me percas
só peço que me prometas

­que no canto da noite,

­ainda que em sonho,

­ ­sejas o branco

­de doses ordinárias de uísque barato

­que eu engulo como quem cospe.­
­Vês o deus de tuas preces?
­Por que o não serei eu?


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sábado, 5 de dezembro de 2009

>SPQ(P)R

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A irmã de Calígvla
Esqueceu de tomar a pílvla
Deu o filho a Clávdio
E o chamou de Nero.
Agripina, que tem nome de aspirina,
Que rima com C6H5-NH2
Não conseguiu evitar a gripe suína
Pois não lhe concederam o visto
Do consulado italiano
Para sair da Argentina.

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segunda-feira, 16 de novembro de 2009

>Ode aos pássaros

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Cantiga na Grécia antiga, o rapsodo
Entrega a moda sem um veto
O vate experiente canta um êxodo
Para o aedo fracassado.

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sábado, 7 de novembro de 2009

>Soneto

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Amor da minha vida deflorada
Que cinzas do algodão inexistente
Pairem sobre tua volúpia quente
À tua quente volúpia já queimada!

Que turvas descendências de nascente
Tragam-me o odor da velha-guarda
Que após morrer tornou-se animada
A alta e clara luz do sol poente

Contudo, enegrece o sol a vida,
Pois tu, amor alheio, a entristece,
E agora feito fetidez caída

Já sabes que o amor que amadurece,
Que mesmo pintado com o pincel de Frida,
Cai como fruta, um dia apodrece!

31/10/2007 – 00h39min AM

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sexta-feira, 25 de setembro de 2009

>Cinco poemas de amor (primeira parte)

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I
Fosse puta por um tempo
Pica-cidade; odores mundanos
Mas por curiosidade:
Queres me ver sem estes panos?

II
A vizinha não me vinha à toa:
Tinha a chave da gaiola
Pois sabia exata a hora
Que meu passarinho voa.

III
Caralho a fundo
Cabeludo até o talo
Não importa o quão foda
Seja o nome do meu falo.

IV
E abortava anjo
E abortava urubu
Quem encontrar suas penas
Favor enfiá-las no cu.

V
Na mitologia grega
Pandora fechou sua boceta
Mas inda tenho esperança
De não morrer na punheta.

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quinta-feira, 27 de agosto de 2009

>Igreja Pentagonal Jackson Five (years) do Reino da Xuxa

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O atrito entre as línguas, entre a trava, a treva,
O traveco, o tráfico, o tráfego, a tragédia
E a comédia, o padre sequer notou.

O padre me estupra, me chupa, me chama de puta
Mas não perde a conduta
Não vai pagar pela culpa por que, seu doutor?

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domingo, 16 de agosto de 2009

>Todo bêbado escreve

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venha e me entorpeça
e antes que me enlouqueça
espere por mim, meu .amor

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segunda-feira, 10 de agosto de 2009

>Sociologia da orgia

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Sodoma
Sem sexo
Sem nexo
Anexo
De Roma
Não coma
Não morra
Sem léxico
Disléxico
Sem vinho
Sem dona
Sem Gretchen
Sem Grécia
Sem pressa
Nos mares
Nos bares
Altares
Se toma
Cachaça
De graça
Se comem
Se traçam
Se fode
Meu nome
Manchado
Na praça
De porre
De porra
Em Gomorra
Entoa
Então
O grito da devassa
Que arregaça a carapuça
Do prepúcio.

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terça-feira, 4 de agosto de 2009

>Dismenorreia

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Música sem sentido para ouvidos desconexos
Invólucro partido; dissonantes retrocessos
A provar do amável gosto da vaselina
Que imprime amargo posto na vagina
Que escorre brilho falho e tão-somente ralo
Fazendo cuco-cuco, fagocita o falo
E estimula o muco: (in)fere a galinácea ao molho pardo

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domingo, 19 de julho de 2009

>Solve et coagula

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Deus me fez ateu
Para que eu pudesse sambar
O meu Death Metal incinerado
Cheio de ervas-doces e águas-de-cheiro
Como os cadáveres do almiscarado
Tempero do mar que cobre a ponte
De Åsgård.

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quinta-feira, 9 de julho de 2009

>Vira e Mexe Modernismo

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Descaradamente

São lodos os meus parênteses que pululam de alergia
E eu me achando estanho: cad’ela?
Por debaixo da phonte ainda morrem
as mágoas de maço, em agonia,
butucas de pigarro inesquecidas além
do tal da física. Da tísica também.
Também da lírica.
Eu percebi exatamente o aposto:
A, bem monge esmo, dentro
Do Monteiro brio onde fermente nossas dores,
Cachaço que me retém intacto o olhar aposto aos molhos
A animália molhada por entre as tabernas
Transadas a preparar a transgressão dos colos
Transmite o cheiro fodido das flores
Pois tu, que me fezes da cédula embrionária,
Jogaste-me do leito ao exercício da mãe.
Lobos, Lobatos e lobotomias: tudo isso
Faz arte da minha genitália.

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quarta-feira, 17 de junho de 2009

>Instante

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"A minha maior alegria é desevangelizar as massas". Tive o privilégio de ouvir o velho proferir essas palavras bem na hora em que eu ia passando para comprar uma cerveja na venda. Prodigioso.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

>Tema da noite

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Escrevi um soneto cheio de tristeza
Pra gente dar risada.
Começa assim (leia em voz alta):
“As estrelas são salpicos
Do sêmen da noite".

Desde os primeiros versos e a cada gole de vinho, esporros
E uma taça quebrada. Quero agora um cálice!
Atrai para mim este cálice, pai!
Por favor, um cálice! Um cálice!
Um cálice!, senão você me deixa louco!

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quarta-feira, 15 de abril de 2009

>Amores Excretos IV

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Um jeito de
Quem carrega os mundos
Pela saliva de
Teu beijo nojento.

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quinta-feira, 19 de março de 2009

>Fadinha láctea

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Pedro, o bebê gay, neste momento chora.
Não sabe ele que o seu dentinho nasce.
E demora: enquanto sua gengiva arde,
A fralda na merda se atola.

Pedro está com disenteria.
Não passou no teste do pezinho.
E assim, vendo ele a chorar ninguém desconfia
Da homossexualidade de Pedrinho.


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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

>À primeira vista

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Foi no IML que eu (re)conheci meu grande amor.

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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

>Neste minuto morre uma criança

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Pequena linfa negra,
A sua arquitetura é pouca:
Cintilada por um cano
De consistência oca
Reflete suas vísceras
A lhes escorrer da boquinha.

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terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

>Versos inversos

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Meu cordel é amador
Sempre fui um bom frustrado
No papel do monitor
Entre linhas do teclado
Minha vida se restringe:
Na hora de sonhar, se finge.

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