quarta-feira, 11 de julho de 2012

>O disfarce

A palavra está disfarçada
e comedida: um mormaço
sensual,
um bafo gospel.
Mal dita e já deixa rastro.

A palavra uiva
na goela
de hortelã,

um sopro cáustico
que precede a mordida

— antes pétrea do que vítrea.

Cochila,
na boca do tempo
é onde a noite dorme.

 ***

domingo, 13 de maio de 2012

>Istmo

Preparar a água,
     secar o mar,
           secar o bar:

naufragar é preciso.


Quanto às pálpebras
talassocráticas,

enchei.
[último aviso]

***

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

>Profético, ma non troppo

Despindo-me das roupas do antropomorfismo:

já consigo visualizar,
pelos poros da costura,

o estio franzido
que ata os futuros vínculos.
São pessoas que se olham e não se veem,
que se beijam e não se tocam.

Uns anoitecem;
outros faltam luz.

Mas ambos muito dizem quando pouco falam.

***

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

>Pequenas vírgulas

Turva a chuva
decorrente
de afluência.

Sobe o raio e
na dúvida
usa a existência:

desconfia
do silêncio do cigarro.

***

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

>O ó

A cidade é longitudinal.
...


é vento que passa


...não é necessariamente cronológica.
A cidade não tem lógica.

É bairro duro,
sangue grego.

Cidade de bolso,
cidade que nem.

A idade da cidade que é
e que nunca deixa de é.

Fotografia móvel,
paradoxo incontestável,
o tempo é seu pior ladrão.

Do Oriente vem vento.
Mas por partes, apenas três movimentos,
tipo uma machadada na cabeça,
só sabe quem já esteve lá.

A cidade está em algum lugar.

***

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

>Um revólver na mão e uma ideia na cabeça

de manhã
  Quando frequento banheiros públicos:
só me vem deslombramento
sempre que levo uma pedra de crack
para casa.

O crack me ajudou a largar o cigarro.


de tarde
  Volta, vodka.

Em
terras onde não -     - -    - - -     ---- -       - - -        ------    -      -    -

(haha) bala perdida - -       - -              ---    - - -       --         - - - - - - - -
pois
ela tem endereço certo        -    --   -         - - -     -- - -         ---             ----- - - - - -
e
os cemitérios estão cheio - -    -     -       -               - -
de
corajosos, -    -       -- --         --           --

minha cruz é a dos ortodoxos. ---    ---       --- --- ---       ---            ---


fim de tarde
  ...por falar em religião,
a canonisa que me atende,
Esta sim,
é movida a cios e cilícios...

e,

prestados os serviços,
no clímax do meu anticlímax,
(o corpo tão febril e a mente tão táctil):
hay que endurecer um coração tão fácil.


de noite
  Se eu usar este artifício em
meu próprio benefício,

o ócio vira vício.


de passagem¹
  Al-coolismo ou cristianismo?

***
_____________
¹    Nuvem inútil que veste a lua
só para ser vista.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

>Maceió, 1928

Roupas,
Trapos,
Toalhas,
Guardanapos
E até o café:
Tudo cheirava àquela mulher.

Não uso mais sapatos
Nem gravata...

Nem subo mais ladeira,
dói a bunda.

Esta tarde
arde a cada calçada
e a décima segunda-feira
Está oca de fome.

Nada deve haver:
a mulher não tinha nome.

***

terça-feira, 9 de agosto de 2011

>Barlavento

E se nós fôssemos nós
fôssemos sós
fôssemos dós
fôssemos vós
até nos darmos nós.

***

sábado, 23 de julho de 2011

>Ps[eu]do

Melhor do que uma trepada homérica
uma transa amazônica.

***

sexta-feira, 10 de junho de 2011

>Panorâmica

(Sob)
Bafo de areia.

A cara
folheia
viradas páginas
mesquinhas
Entre_ímãs,
como alguém
que pudesse
ver Leviatans.

Fecha o livro:
ser perto
nem de longe
foi ser preto,
encontro
de slogans.

Cidade-mais-Manhattan.
dínamos
dos ramos
acendem aortas

bígamos
santos
e a poesia
de tudo quanto é morta,
na costa
de tudo quanto é mar.

Bafo na cara
cospe o perfume
dos cardumes:
hahahaha.

***

domingo, 5 de junho de 2011

>Teoria II - Circuncisado pelo sistema

Poeta de respeito,
escreveu
dez
palavras
e não
fez poema.

***

quinta-feira, 28 de abril de 2011

>Dúvida

Por que não harmonizarmos com a prudência
De um cientista subjetivista
Todas as concepções morais e sociais
Crônico-contemporâneas
Na tentativa de compreender a
Complexa diversidade de nossa
Experiência sensível, considerando que
Todo progresso realizado até agora
Se encarregará de organizar a humanidade
A fim de, a partir daí, organizar a Deus
De maneira lógica e uniforme
Sob a égide sistemática do pensamento estrutural
Através do qual suas ordenações resultantes
(acidentais ou não) derivem de um processo
Extremamente hipotético, sujeito a controvérsias, cuja
Aplicabilidade esteja voltada para a observação direta
Dos fenômenos históricos ultrapassados em si mesmos
Até que se obtenha um testemunho
Filologicamente convincente e único
Sempre debatendo filosofia
Como se entendêssemos alguma coisa?

***

>O que diz o dicionário sobre o meretrício

As uvas são feitas de vinho
E nos embriaga a cada era
Como se fôssemos
Rótulos.

Nunca vi tanto vinho virar uva.
Sua pele é rara
E seus filhos nascem
Póstumos.

***

>Sempre naquela

O corpo de Deus tocou meu corpo;
Excitei-me.

Lançou em mim um olhar de fé
Como um olhar de Mulher
Molhado na areia,
Às espumas.

Sei que tenho coração, mas não o possuo
(concluo).

Desamarelada,
Essa graça,
Essa troça,
De renascença aça,
Mulher-raça,
Pálida Mama-África

Jurubeba bêba
Toca o sexo e deixa
De ressaca,

Mas Deus não está se importando;
Deus tá cagando e andando.

***

sábado, 15 de janeiro de 2011

>Teoria

Minha sombra é virgem
(nunca levou sol)
E tem a cor das cores.

Sombra negativa, feita de física,
Premissa com gosto de sabores,
De contorno ótimo.

Fazer-se dia passada a luz
É traduzir os caminhos
Que tu fores.
Mas qual! E o vilão dos eleitores,
Herói de tantos ócios,
Não passava de um muro!

Tanto agouro se passou, tanto fóssil,
Só uma teoria restou:
O presente é o futuro
Infinitamente próximo.

***

domingo, 12 de dezembro de 2010

>Dia agnóstico

Sem controvérsia,
o destino
mais vice-do-que-versa.

***

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

>Pé de pau

Pa Crarinha

frô,
déi frô,
mói de frô
uma frônelada.

frô, frô, frô
uma frô amarela

uma nêga frô

muitas frô
de muitas côr

FRÔ PA TU
FRÔ PA EU

FRÔ, FRÔ
QUE LINDA FRÔ MÔ DEUSI!

***

>Hoje eu apartamentei o paraíso

Muito bom
reviver,
relembrar,
até gastar as paredes.

***

>Pausa para o café

Intervalo doloroso entre
o
criado-mudo e
a
calada-da-noite.

***

domingo, 12 de setembro de 2010

>Cinco poemas de amor (segunda parte)

­
I
Puta que pariu
gêmeos
se confode por não saber
se são machas ou fêmeos.

II
Como é gostoso
o cheiro do xixi do meu amor
(o do seu cocô
é mais cheiroso).

III
A menina
era priápica.
Não precisa
dizer nada.

IV
Nota:
Este poema não teria sentido
se antes de masturbá-lo
eu o tivesse fodido.

V
Moça de 15 anos
a idade é pouca,
mas tem a capacidade
de tirar do cu e pôr na boca.

***

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

>Ser-mar

Barco de lenha
(ou carga temerária).
Afundará aos poucos
ainda que sejam lâmina
cortante forem os rios.
Ainda que lhes venha
navegar
com polida madeira
de árvore prenha.

Talvez vá se destacar
quando secar o mar.

***

>Helləlûyāh

­
A onda do nada
aonde for
será minha palavra.

A ordem, o fogo:
queimarei se for celeste.

Terei nas mãos
meteoros-
de-todos-os-santos.

Se os prantos e as pestes
não vierem,
a onda vai se desfazer em nada

e a palavra quebrará
na margem do olhar.

Quem não perceber
é porque não a tem.

***

quarta-feira, 7 de julho de 2010

>Simbiose

­
Eis no corcovado:
puro concreto. Curvado e solitário.
Diáfano.
Sempre de braços abertos.

Cavado, eis no corcovado.
Covarde,
pois não concretiza o abraço, logo
não o completa...
Fixo. Hirto. Vírgula. Ponto. Telegráfico.
A nós, a esperança.
Seu estágio é uma sensação de passagem,
[de despedida
que se inicia como quem adeus anuncia.
Cuscuz de pedra.
Seu abraço não se fecha.
Resta apenas o vazio
mas o feitiço não se quebra (sequer desmancha).

Ó, corcovago, corcomago, corcoitado, corcovácuo.
Teu nome é canção, vestal oratória.
Reside em ti, maciça, a ardente memória
de um Heliogábalo.

†††

quarta-feira, 2 de junho de 2010

>Pau no Leminski

­
Ártica,
Desejo pálido
De gelo.
Superfície:
Alguma possível.
Nenhuma, nula,
Puro mínimo.
Espírito único.
Provoco equívocos,
Monólogos-vivos.

***

quinta-feira, 8 de abril de 2010

>Melodia e Gardênia

­
Meu coração é uma noite negra
Que me ilumina a
Cada vez que me elimino.
Seu longo véu de veludo
Cobre o planeta mudo
E eu assisto a tudo rindo.

Meu coração é uma Peste Negra
Que me infecta a cada vez
Que te detecta.
Não distingue a cor do vidro,
Não sabe se um anjo é um urubu travestido,
Não há candura que dura um só momento;
A gasolina não passa pelo ventrículo,
O sangue não bombeia o músculo do veículo,
Mas eu tento.

***

segunda-feira, 22 de março de 2010

>"Inovatus"

à moda de

Ele: vou virar um Ogro. Só corto o cabelo quando eu quiser.
Ela: ah, vc só vai cortar quando a gente voltar, isso é alguma forma de esperança. Escreve isso, vai. Deixe de ser reprimido.
Ele: reprimido é o caralho.
Ela: só se for o teu caralho.

***

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

>Corpo descartável

­
Preferes o meu colo ou minha alma?
Omito ser alma o que além do atrito
presta, porque és digno ou porque és digno de honesta idade
ao arderes quando clamas em tua calma cama onde tu amas.
Mas se presto, por favor ou devoção,
eu te adoro. Assim me vens com líquidas
palavras; azinhavras, azinhavras
este teu tom de azul de tanto tinto,
pois aqui no quinto jaz um blues.

***

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

>Amores Excretos V

­
Se sinto,
minto.
se disfarço, finto amor eterno.
ergo, falso é aquele a quem me entrego
pois se o faço
é porque nego.

***

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

>Impressão à luz do sol

Ao poeta Geraldo Câmara, da vida em vie

­
Breve o dia, os deuses se dispõem

­ ­a quebrar o ritmo

­da nossa vida em via;

­se me ardes, não me percas
só peço que me prometas

­que no canto da noite,

­ainda que em sonho,

­ ­sejas o branco

­de doses ordinárias de uísque barato

­que eu engulo como quem cospe.­
­Vês o deus de tuas preces?
­Por que o não serei eu?


***

sábado, 5 de dezembro de 2009

>SPQ(P)R

­
A irmã de Calígvla
Esqueceu de tomar a pílvla
Deu o filho a Clávdio
E o chamou de Nero.
Agripina, que tem nome de aspirina,
Que rima com C6H5-NH2
Não conseguiu evitar a gripe suína
Pois não lhe concederam o visto
Do consulado italiano
Para sair da Argentina.

***

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

>Ode aos pássaros

­
Cantiga na Grécia antiga, o rapsodo
Entrega a moda sem um veto
O vate experiente canta um êxodo
Para o aedo fracassado.

***

sábado, 7 de novembro de 2009

>Soneto

­
Amor da minha vida deflorada
Que cinzas do algodão inexistente
Pairem sobre tua volúpia quente
À tua quente volúpia já queimada!

Que turvas descendências de nascente
Tragam-me o odor da velha-guarda
Que após morrer tornou-se animada
A alta e clara luz do sol poente

Contudo, enegrece o sol a vida,
Pois tu, amor alheio, a entristece,
E agora feito fetidez caída

Já sabes que o amor que amadurece,
Que mesmo pintado com o pincel de Frida,
Cai como fruta, um dia apodrece!

31/10/2007 – 00h39min AM

* * *

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

>Cinco poemas de amor (primeira parte)

­
I
Fosse puta por um tempo
Pica-cidade; odores mundanos
Mas por curiosidade:
Queres me ver sem estes panos?

II
A vizinha não me vinha à toa:
Tinha a chave da gaiola
Pois sabia exata a hora
Que meu passarinho voa.

III
Caralho a fundo
Cabeludo até o talo
Não importa o quão foda
Seja o nome do meu falo.

IV
E abortava anjo
E abortava urubu
Quem encontrar suas penas
Favor enfiá-las no cu.

V
Na mitologia grega
Pandora fechou sua boceta
Mas inda tenho esperança
De não morrer na punheta.

***

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

>Igreja Pentagonal Jackson Five (years) do Reino da Xuxa

­
O atrito entre as línguas, entre a trava, a treva,
O traveco, o tráfico, o tráfego, a tragédia
E a comédia, o padre sequer notou.

O padre me estupra, me chupa, me chama de puta
Mas não perde a conduta
Não vai pagar pela culpa por que, seu doutor?

***

domingo, 16 de agosto de 2009

>Todo bêbado escreve

­
venha e me entorpeça
e antes que me enlouqueça
espere por mim, meu .amor

***

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

>Sociologia da orgia

­
Sodoma
Sem sexo
Sem nexo
Anexo
De Roma
Não coma
Não morra
Sem léxico
Disléxico
Sem vinho
Sem dona
Sem Gretchen
Sem Grécia
Sem pressa
Nos mares
Nos bares
Altares
Se toma
Cachaça
De graça
Se comem
Se traçam
Se fode
Meu nome
Manchado
Na praça
De porre
De porra
Em Gomorra
Entoa
Então
O grito da devassa
Que arregaça a carapuça
Do prepúcio.

* * *

terça-feira, 4 de agosto de 2009

>Dismenorreia

­
Música sem sentido para ouvidos desconexos
Invólucro partido; dissonantes retrocessos
A provar do amável gosto da vaselina
Que imprime amargo posto na vagina
Que escorre brilho falho e tão-somente ralo
Fazendo cuco-cuco, fagocita o falo
E estimula o muco: (in)fere a galinácea ao molho pardo

***

domingo, 19 de julho de 2009

>Solve et coagula

­
Deus me fez ateu
Para que eu pudesse sambar
O meu Death Metal incinerado
Cheio de ervas-doces e águas-de-cheiro
Como os cadáveres do almiscarado
Tempero do mar que cobre a ponte
De Åsgård.

* * *

quinta-feira, 9 de julho de 2009

>Vira e Mexe Modernismo

­
Descaradamente

São lodos os meus parênteses que pululam de alergia
E eu me achando estanho: cad’ela?
Por debaixo da phonte ainda morrem
as mágoas de maço, em agonia,
butucas de pigarro inesquecidas além
do tal da física. Da tísica também.
Também da lírica.
Eu percebi exatamente o aposto:
A, bem monge esmo, dentro
Do Monteiro brio onde fermente nossas dores,
Cachaço que me retém intacto o olhar aposto aos molhos
A animália molhada por entre as tabernas
Transadas a preparar a transgressão dos colos
Transmite o cheiro fodido das flores
Pois tu, que me fezes da cédula embrionária,
Jogaste-me do leito ao exercício da mãe.
Lobos, Lobatos e lobotomias: tudo isso
Faz arte da minha genitália.

* * *

quarta-feira, 17 de junho de 2009

>Instante

­
"A minha maior alegria é desevangelizar as massas". Tive o privilégio de ouvir o velho proferir essas palavras bem na hora em que eu ia passando para comprar uma cerveja na venda. Prodigioso.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

>Tema da noite

­
Escrevi um soneto cheio de tristeza
Pra gente dar risada.
Começa assim (leia em voz alta):
“As estrelas são salpicos
Do sêmen da noite".

Desde os primeiros versos e a cada gole de vinho, esporros
E uma taça quebrada. Quero agora um cálice!
Atrai para mim este cálice, pai!
Por favor, um cálice! Um cálice!
Um cálice!, senão você me deixa louco!

***

quarta-feira, 15 de abril de 2009

>Amores Excretos IV

­
Um jeito de
Quem carrega os mundos
Pela saliva de
Teu beijo nojento.

***

quinta-feira, 19 de março de 2009

>Fadinha láctea

­
Pedro, o bebê gay, neste momento chora.
Não sabe ele que o seu dentinho nasce.
E demora: enquanto sua gengiva arde,
A fralda na merda se atola.

Pedro está com disenteria.
Não passou no teste do pezinho.
E assim, vendo ele a chorar ninguém desconfia
Da homossexualidade de Pedrinho.


* * *

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

>À primeira vista

­
Foi no IML que eu (re)conheci meu grande amor.

* * *

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

>Neste minuto morre uma criança

­
Pequena linfa negra,
A sua arquitetura é pouca:
Cintilada por um cano
De consistência oca
Reflete suas vísceras
A lhes escorrer da boquinha.

***

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

>Versos inversos

­
Meu cordel é amador
Sempre fui um bom frustrado
No papel do monitor
Entre linhas do teclado
Minha vida se restringe:
Na hora de sonhar, se finge.

* * *

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

>Pois eu

­
Estava com sono, mas não fui dormir. Liguei o rádio, a TV, a internet e fui tentar ler um livro. Li umas 14 páginas; cheirei umas 12. Uma lágrima esmaece um dégradé na página 22: "é a hora de dormir". Fui ao banheiro, “mijei” sentado e cochilei. Quando me dei conta, minha mulher se contorcia em contrações pré-parto. Era o momento em que eu deveria agir. Decidi, então, realizar o parto da minha própria filha. A criança nasceu morta. Uma música do Roberto Carlos é executada na rádio. O dia amanheceu em paz.


* * *

>Desatualizando...

­
Outro dia vi um sujeito com uma camisa em que havia uma frase: “O Capitalismo mata. Morte ao capitalismo”.
E mata mesmo: se não trabalhar, morre de fome.

­

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

>Neomodernismo II - Ensaio sobre a catarata

­

Toda regra tem sua exceção. E isso

É uma regra, ou seja: tem sua exceção.

Logo, nem toda regra tem sua exceção.

­

>Neomodernismo I

­
Estávamos numa sessão de arte:
O encontro sendo parte do infinito
Com o infinito encontro sendo parte.

Mas parte do infinito é infinito?
Ou julga ser finito o que reparte?
O fim do fim do fim do fim eu fito.

No céu, no sol, no dela, há um aparte:
Calor que arde até quando é escrito.
E eu finjo os olhos onde não tem arte.

* * *

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

>Encontro

­
Sentia-se todo desgostoso

no bar

acompanhado de uma loira gelada

até chegar uma morena quente.


* * *

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

>Amores Excretos III *

­
Um carinho na cabeça
(e entre os fios, dedos
c
a
i
n
d
o
suaves, cilíndricos e enxágües
a me delirar)
Do pênis.


* * *

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

>Vestido

­
Flores não são belas,

São flores.


Flor é você

Que é o avesso do meu ser.

* * *

>A rosa

­
Rosa
de espinho
Que fura
meu dedo
Que sangra
na rosa
Confunde
sua raça
Vermelha
embaça
Meu sangue
Ao rubro
Da rosa
Da taça
De vidro
Que quebra
E me corta.

* * *

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

>Lema de mulher solteira:

­
"Penso, logo excito."
­

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

>Triste Alegria

­
Enfim, a vida:

Em fim a vida.


* * *

terça-feira, 12 de agosto de 2008

>Amores Excretos II

­
O enganador

Até engana

Quem ama

Mas não engana a dor.


* * *

>Amores Excretos I

­
Não se iluda:

Amor rima com dor;

amar rima com dar.


* * *

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

>Id em


Mente consciente

Conscientemente

Mente com ciente mente.


* * *

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

>oxelfeR etnerapA


Afetos excitam

Estranha agonia

Noite ejacula

Emétropes astros.


Tudo em perfeita

E em clara harmonia

De arquitetônicos traços.


* * *

domingo, 27 de julho de 2008

>O Porquê da Cerimônia


Quero tua vulva
Molhada como a chuva

À míngua,
Chovendo na minha língua.

* * *

>E agora Fritz?


“Nietzsche está morto. Haha”. Deus

­

quinta-feira, 24 de julho de 2008

>Nova Pérsia

Gosto de ser como foram os romanos
Que incentivavam a fama [sic]
E a guerra.

Famosos são os alexandrinos
E helênicas mulheres parisienses.
Eu que queria ter nascido em Bactrina
­
E ter roubado Persépolis todinha pra mim
Pra sentar no trono do rei com um sorriso safado
E gritar: “TEMPOS MODERNOS!”

* * *

>Textículos de Uma Bíblia Sem Razão


“Cuidar-te-ia-vos de ti, pastor Zara.”

Assim falou-lhe-me meu Senhor.

“Porém, troque-se-lhe os cunhos, vago profeta. E não

te suportarás a vida de andante”

Querer-me-ias-lhe vossa presença em meu coração,

Senhor.


“O sangue que te escorre-vos não é o necessário

para teu povo. Não te assustas-o.”

Pois a ti te ofereço-lhe, além dos coágulos, meu e vosso


corpo-o. Sim, tu me amas e eu te amos.

Sois-me pedaço de lhe.

Tenho-ei-o para a eternidade.


Eternize-a-me em vossa paixão.

(Cobria-se-lhe de beijos)

“Chamar-te-ei-lhe-vos de Zaraústre e terás minha missão.”


* * *

>Marginal

­
­Minhas duas irmãs são como ferro e aço:

Uma, descabeçada da cabeça;

A outra, descabaçada do cabaço.


Mas ambas, gesto inconsciente

Como um breve beijo no cachaço,

Um poema sem palavras

Vagina: cano de passar gente.